terça-feira, 20 de setembro de 2011

Resenha Crítica do Livro Em Busca de Identidade


FACULDADES ADVENTISTA DA BAHIA

SEMINÁRIO ADVENTISTA LATINO-AMERICANO DE TEOLOGIA
Mestrado intra corpus em Teologia, 2011
Wanderson Vieira da Silva


RESENHA CRÍTICA


1.Bibliografia - KNIGHT, George R. Em busca de identidade: o desenvolvimento das doutrinas adventistas do sétimo dia. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2005, 220p. R$ 32,00.
2. BiografiaGeorge Raymond Knight (1941 -) é um historiador e educador adventista do sétimo dia; está jubilado e mora no estado americano do Oregon. Knight se uniu à Igreja Adventista através do ministério de Ralph Larson. Completou o bacharelado no Pacific Union College, MA e MDiv da Universidade Andrews, em 1976, e um EDD da Universidade de Houston. Fez especialização em Filosofia da Educação de 1976 a 1985, e em História da Igreja de 1985 a 2006. Iniciou sua carreira dando aulas na faculdade de educação, mas o seu grande interesse pela história adventista levou-o para o Departamento de História da Igreja no Seminário Teológico Adventista do Sétimo Dia. Foi professor na Andrews University por trinta anos. Os pontos focais de suas monografias durante todos os anos que ali lecionou foram a história e filosofia da Educação Adventista e a história dos adventistas do sétimo dia. Knight escreveu mais de 35 livros e foi o responsável pela edição de aproximadamente 40 livros nas áreas de Filosofia da Educação, História Adventista, Estudos sobre Ellen White, Teologia e os estudos sobre o Novo e Antigo Testamentos. No início da década de 90, editou as séries Andrews University Seminary Studies e The Bible Amplifier Commentary. Atualmente, Knight é editor da série biográfica Adventist Pioneer, da série Library of Adventist Theology e da Adventist Classic Library. Apesar da aposentadoria, está escrevendo um comentário sobre vários livros da Bíblia, tendo já finalizado o sétimo volume.

3. Conteúdo A obra de Geoge R. Knight tem como tema principal o “Desenvolvimento histórico da teologia adventista”[1]. Esse desenvolvimento reprensentou uma busca contínua da igreja por uma identidade. E essa identidade ocorreu sob a primícia de que a verdade é progressiva.

Para fundamentar sua tese, Knight, já no primeiro capítulo, desenvolve a Natureza Dinâmica da “Verdade Presente”. Aqui, ele disserta que os pioneiros do adventismo como José Bates, Tiago e Ellen White tinham claro em suas mentes o conceito dinâmico da verdade. Essa visão dinâmicafoi bem expressa nas palavras de Ellen White: “Esperamos ainda progredir, de forma que nossa vereda se torne cada vez mais brilhante até dia perfeito”[2]. Corroborando essa forma de ver a verdade, Knight acrescenta ainda que os primeiros crentes eram rigidamente contra os credos, pois, para eles, existia a possibilidade das doutrinas descobertas evoluírem. Porém, paralelalmente ao desenvolvimento da verdade ocorria a fundamentação das que eram descobertas.

No segundo capítulo, o autor continua justificando sua tese inicial quando aborda a idéia que O Adventismo não Nasceu no Vácuo. Aqui, a idéia principal é que o pano de fundo teológico do adventismo se construiu com a articulação de pelo menos sete fatores. O primeiro fator mencionado que contribuiu para esse pano de fundo foi o restauracionismo que tinha como objetivo completar “a Reforma inacabada”[3]e incentivar o retorno à Bíblia. O segundo fator foi a Conexão Cristã, nas pessoas de José Bates, Tiago White e José Himes que foram indivíduos fundamentais para contrução das bases teológicas adventistas. O terceiro corresponde a contribuição metodista na pessoa de Ellen White, uma das fundadoras do adventismo sabatista. A quarta contribuição veio do movimento filosófico deista com sua abordagem racional das coisas. O quinto foi o puritanismo que marcou a história americana com o seu objetivo de estabelecer nacionalmente o sábado ( nesse caso o Domingo) como o dia a ser observado. Um sexto fator a ser mencionado era idéia inicial no adventismo de que a “pessoa comum era capaz de empreender quase tudo, inclusive teologia”[4]. E o sétimo e último fator tem que ver com a expansão do baconismo. O espírito do método científico clássico levou os crentes adventistas a construírem suas doutrinas sob a metodologia de reunir todos os textos bílicos relevantes de determinado assunto para que o indivíduo tivesse correto em sua interpretação desse assunto.

Seguindo a trilha do autor que tem por objetivo revelar que a teologia adventista foi contruida de forma progressiva, vemos, no terceiro capítulo, a apresentação de forma mais detalhada do Fundamento Teológico dos Mileritas. Aqui ele descreve com detalhes como os ensinos de Miller contribuíram para formar a base teológica do adventismo do sétimo dia. A contribuição do milerismo se deu através da maneira como Miller usava a Bíblia, se deu também com a sua escatologia, com a sua perspectiva das mensagens do primeiro e segundo anjos e por meio do “Grande Desapontamento”.

Dando continuidade a tese de que a verdade foi estabelecida de forma progressiva, no quarto capítulo cujo título é O que é Adventista no Adventismo?, o autor revela como algumas verdades distintivas do povo que estava surgindo começaram a ser desenvolvidas, a partir do ano de 1844. Uma das primeiras idéias que esse novo grupo começou a crê, distinguindo-se dos demais grupos do adventismo, foi a crença de que deviam pregar a todo povo, língua, tribo e nação. Atrelado a isso, eles reafirmaram a hermenêutica bíblica milerita. E com essa perspectiva hermenêutica, o novo povo iniciou uma busca de uma compreensão mais ampla do santuário. Já que haviam passado por um desapontamento recente, teriam que analisar agora em que estavam errados na sua articulação profética das 2300 tardes e manhãs. Na reformulação desse ensino, descobriram que o evento que deveria ocorrer em 1844 era a passagem de Cristo do Santo Lugar para o Santíssimo Lugar do Santuário Celestial e não a Volta de Jesus a essa Terra. Não somente descobriram esse detalhe importante da profecia, mas também foi desenvolvido posteriormente por José Bates, o primeiro teólogo dos adventistas, “um sistema que unificava as doutrinas da segunda vinda, do sábado e do Santuário”[5]. Alem disso, os novos crentes aprimoraram as mensagens do Primeiro e Segundo Anjos. Eles também desenvolveram, por volta de 1856, a compreensão Bíblica do Dom de Profecia.

O capítulo cinco, o qual trata sobre o tema O Que é Cristão no Adventismo? descreve o tenso cenário teológico que estava sendo montado, a partir da Conferência Geral de 1888, em Minneapolis. Esse cenário foi construído primeiramente pela controvérsia que se travava em torno da questão de autoridade. Apesar de Ellen White reivindicar autoridade final à Bíblia, alguns insistiam que ela fosse arbítrio último em assuntos doutrinários. Uma outra peça do quebra-cabeça tenso que se formava girava em torno do tema de Justificação pela Fé. Sem sombra de dúvida, a partir de 1888 dois grupos se polarizavam reivindicando para seu lado a verdade sobre esse assunto. O autor afirma que Ellen White foi visivelmente favorável as esplanações dos pastores Waggoner e Jones; que por sua vez eram a favor da justificação ser unicamente pela fé. Apesar desse aval da profetiza do Senhor, um grupo muito forte se levantou contra essa idéia. Ainda outro tema teológico entraria em pauta nesse cenário tenso que surgia. Era o tópico da divindade de Jesus, a personalidade do Espírito Santo e a Trindade. Como a igreja avançou na questão de salvação, agora eles “necessitavam de corrigir os pontos de vista denominacionais sobre a Divindade”[6]. E a tendência, segundo Knight, foi a igreja se aproximar de uma Trindade Bíblica. No fechamento da complexa teia teológica que se formou a partir de Minneapolis, se encontra a exploração dupla da natureza humana de Cristo. Aqui também, o povo remanescente caminhou em direção a uma compreensão equilibrada, sempre sob a orientação profética de Ellen de White.

Mas, apesar de a profetiza do Senhor direcionar as questões teológicas que surgiram de Minneapolis a uma determinada direção, alguns líderes estavam mantendo seu ponto de vista controvertido. Como resultado, no capítulo seis O Que é Fundamentalista no Adventismo?, o autor revela que, no caminho do desenvolvimento doutrinário da Igreja Adventista do Sétimo Dia, surge uma outro polarização teológica a partir de 1919 que se arrastaria até 1950. Para compor esse tenso contexto, como reação fundamentalista ao liberalismo, aparece com força na pauta de discursões o conceito de inerrância e verbalismo aos escritos de Ellen White. Não somente isso, mas questões sobre justificação pela fé, que pareciam resolvidas, voltam com toda força. Mas o quadro se torna extremamente complexo quando surge em cena o influente M.L. Andreasen. Esse expoente teólogo constrói um arrazoado em favor do perfeccionismo. Como forma de combater as heresias de Andreasen, a denominação direcionou os seus esforços para “purificar” e fortalecer as publicações adventistas.

No sétimo capítulo O Adventismo em Tensão Teológica, Knight apresenta as discursões teológicas atuais. Essas discursões giram em torno de uma busca do adventismo histórico, de uma melhor compreensão do significado de 1888, de busca do papel de Ellen White na compreensão doutrinária adventista e da busca por uma teoria de inspiração. Alem desses pontos que marcaria o cenário de discursões na atualidade, temos ainda questões como o seignificado do “remanescente” bíblico, a doutrina da igreja, as implicações do relato de gêneses sobre a criação e o dilúvio e a natureza do Apocalipse. Alem do mais, a atualidade presenciou o ressurgimento do antitrinitarianismo e do semi-arianismo. E por fim, é verificado no momento atual o problema de um fim do tempo que nunca chegou.

Ao finalizar sua apresentação do desenvolvimento histórico das doutrinas adventistas, o autor apresenta o último capítulo O Que isso tudo significa? Aqui ele mostra suas conclusões de toda essa caminha histórica. A primeira é acerca de se fazer teologia de forma polarizada. Esse tipo de abordagem trouxe mais problemas do que soluções. Ele fala também sobre as “lições do rigor mortis teologico”[7]. E encerrando a apresentação da dinamicidade da verdade presente do adventismo, o autor fala sobre as lições dos dundamentos teológicos.



4. Propósitos

O propósito da obra de George R. Knight é revelar que as doutrinas adventistas foram confeccionadas ao longo de sua história de forma progressiva. Na verdade, o que ocorreu foi uma verdadeira tragetória teológica. Para ser mais preciso, o autor apresenta ao leitor de forma fundamental que a identidade adventista ocorreu por meio de um busca contínua da verdade. E essa verdade só foi possível, dentre outros fatores, com uma contribuição significativa de diversas denominações e grupos. Desfazendo assim um mito adventista de que a verdade chegou aos pioneiros acabada ou pronta.









5. Uso de Fontes

A presente obra é um estudo histórico que se baseia principalmente na pesquisa de fontes primárias, contudo, utilizando comedidamente e harmoniosamente, fontes secundárias.



6. Pontos Fortes e Fracos

            Seria muita pretensão de minha parte fazer esse tipo de análise, visto que seu apenas um estudante iniciante nessa área. Mas gostaria de apenas mencionar dois pontos que julguei serem relevantes. O primeiro tem que ver com a forma que o autor desenvolveu a fundamentação da teologia adventista. Para ele, houve mais enraizamento da verdade nos momentos de tensões. As crises pareceram ao longo da história do adventismo ser um ambiente fértil para surgimento da verdade e sedimentação da mesma. Hoje esse conceito é importante, pois encoraja-nos a crer que as atuais tensões que giram em torno da teologia adventista são também ambientes para fortalecimento da verdade ou sua ampliação. O segundo ponto tem que ver com apenas um descuido que julgo ser da tradução. Esse descuido diz respeito ao aparente juízo que Knight faz a Anna Rice, na página 111, no segundo parágrafo. O texto diz: “Infelizmente, ficou provado que ela era uma falsa profetiza, embora isso não tenha ficado evidente até que Jones e Prescott abalaram o adventismo sobre o assunto em 1893 e 1894”. O que nos parece é que para o autor, Rice poderia ter sido um profetiza verdadeira. O que discordo se esse for o caso.



7. Público Alvo

            Acredito que a obra se direciona a pelo menos três públicos. O primeiro é um grupo mais popular da igreja. Este é um tema que contém muito informação, mas o autor o expôs de tal forma que ficasse simples para que leigos no assunto pudessem ler. O outro grupo corresponde aos líderes de milhares de igrejas que temos em todo mundo. E por fim, a obra se direciona também a um grupo mais acadêmico. Apesar de o livro carecer de mais detalhe dos fatos, não deixa de ser uma ferramenta preliminar para todo estudante universitário, especialmente os de teologia.



[1]KNIGHT, George R. Em busca de identidade: o desenvolvimento das doutrinas adventistas do sétimo dia. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2005, 10p.
[2]Idem 20p.
[3] Ibidem 30p.
[4] Ibidem 35p.
[5]Ibidem 42p.
[6]Ibidem 112p.
[7]Ibidem 208p.