1.Bibliografia – DAVIDSON, Richard M. Interpretação bíblica. In: DADEREN, Raul. Tratado de teologia: adventista do sétimo dia. 1. ed. Tatuí: Casa
Publicadora Brasileira, 2011. pp. 67 - 119.
2. Biografia – Richard M. Davidson é um estudioso
do Antigo Testamento e adventistas do sétimo dia. Ele é autor de dezenas de artigos publicados no Theological
Journals. A partir de 2009, se tornou presidente do departamento de
Antigo Testamento e professor de Exegese do Antigo Testamento no Seminário Teológico
Adventista do Andrews University, Berrien Springs, Michigan. Foi presidente da
Sociedade Teológica Adventista, que teve inicio a partir de 1994. Nascido na
Califórnia, estudou na universidade de Loma Linda, graduando-se em 1968 com um
bacharelado de artes em teologia. Dois anos depois, ganhou seu título de mestre
em teologia, no Seminário Teológico da Andrews. Sua dissertação foi publicada com
o título Tipologia nas Escrituras. Serviu
como pastor associado de uma igreja em Phoenix, Arizona, e como pastor titular da
Igreja Flagstaff, por mais de cinco anos. Foi ordenado como ministro em
Prescott, Arizona, em 1974. Atualmente, é também membro da Society of Biblical
Literature, da Sociedade Teológica Evangélica, e continua sendo membro da
sociedade teológica adventista. Ele apresentou mais de setenta trabalhos
acadêmicos em reuniões profissionais dessas sociedades e outros locais. Davidson
tem escrito numerosos artigos para revistas especializadas e jornais
denominacionais, bem como vários capítulos em livros acadêmicos. Estes podem
ser vistos em seu site (www.andrews.edu/davidson). Outras publicações incluem os seguintes livros: A Love Song for the Sabbath (Review and Herald
Publishing Association, 1988), In the Footsteps of Joshua (Review and Herald
Publishing Association, 1995), Biblical Hermeneutics (in Romanian; Editura
CARD, 2003), and Flame of Yahweh: Sexuality in the Old Testament (Hendrickson
Publishers, 2007). Ele é casado com JoAnn Davidson Mazat que
também leciona no Seminário Teológico. Eles tem dois filhos Rahel e Jonathan.
3. Conteúdo
O artigo de Richard M. Davidson trata
sobre “os princípios e procedimentos básicos para interpretar a Bíblia de
maneira fiel e precisa”[1],
os quais formam a ciência denominada hermenêutica bíblica. Esse verbete está
inserido no Tratado de Teologia
Adventista do Sétimo Dia. Ele foi confeccionado, basicamente, em seis partes.
O autor inicia o artigo com uma breve introdução sobre o tema, logo em seguida,
aborda os pressupostos básicos que o estudante deve ter ao iniciar o seu estudo
da Bíblia, depois delineia os princípios fundamentais de interpretação bíblica,
seguidos de uma apresentação das diretrizes específicas para a interpretação da
escritura, posteriormente, escreve uma breve história da hermenêutica bíblica,
e, por fim, finaliza o tema com os comentários de Ellen G. White relacionados ao
assunto.
Na introdução, Richard Davidson faz uma exposição
curta sobre o que irá tratar ao longo do verbete. Além disso, apresenta uma
definição geral do tema em questão que é a hermenêutica bíblica; que para ele
equivale ao conjunto de ferramentas procedimentais e conceituais para interpretar
as Escrituras Sagradas.
Logo em seguida, Davidson inicia uma
explanação dos três pressupostos elementares que o estudante deve ter em mente
ao realizar um bom empreendimento de interpretação da Bíblia. O primeiro
corresponde ao conceito bíblico de revelação, inspiração e iluminação das Escrituras,
que basicamente significam apreender a Bíblia como a Palavra de Deus revelada
aos profetas, registrada em limitadas palavras humana e enviada a diversos
públicos especificados, no texto sagrado. O segundo pressuposto diz respeito à
necessidade de se interpretar a Bíblia. Pois a mente humana é limitada para
compreender o Ser Infinito, sem contar que, devido ao pecado, houve uma
deterioração da capacidade mental do ser humano. Alem disso, têm surgido ao
redor do globo terrestre falsificadores e corruptores da Palavra. Ainda mais,
estamos “distantes dos autógrafos bíblicos em termos de tempo, .distância e
cultura”[2].
O terceiro pressuposto equivale à definição e abrangência da hermenêutica. Enquanto
que a definição da hermenêutica bíblica diz respeito ao “estudo dos princípios
e procedimentos básicos que visam à fiel e coerente interpretação da Palavra de
Deus”[3],
a sua abrangência significa duas procedimentos um é entender a mensagem de Deus
transmitida pelos autores bíblicos aos seres humanos e a outra é fazer uma
aplicação dessa mensagem nos dias hodiernos.
Após apresentar os pressupostos básicos
para compreender as Escrituras, Davidson passa a discutir os cinco princípios
fundamentais de interpretação bíblica. O primeiro corresponde ao que se
denominou na Reforma Protestante de sola
Scriptura. Aqui, a Bíblia é apresentada como a norma final da verdade. Pois
ela está em primeiro lugar em relação aos médiuns espíritas, à qualquer
tradição ou filosofia humanas, à natureza, às faculdades mentais e emocionais
dos seres humanos. Alem disso, a Escritura “não tem paralelo como guia
infalível da verdade”[4].
Ela é suficiente como fonte de sabedoria; e também o padrão que avalia toda
doutrina e experiência humanas e, alem do mais, nos fornece a estrutura e
perspectiva divinas para todo o ramo do saber. O segundo princípio fundamental
diz respeito à totalidade da Bíblia. Aqui, o autor afirma que “toda a Escritura
– não apenas uma parte dela – é inspirada por Deus”[5].
Isso equivale à união indivisível e indistinguível dos aspectos divinos e
humanos do Texto Sagrado. Alem de a Bíblia ser e não meramente conter a Palavra
de Deus. O terceiro princípio está relacionado à analogia das Escrituras que significa
a existência de uma unidade e harmonia fundamental entre suas diversas partes.
Sendo assim, o Cânon bíblico é visto como seu próprio interprete, ou seja, cada
porção dele interpreta outra porção. Ele apresenta também harmonia, visto
possuir um único Autor. E alem do mais, revela clareza a tal ponto de qualquer
pessoa interessada poder entendê-lo. O quarto princípio está relacionado ao
aspecto espiritual. Aqui, Davidson defende a busca da iluminação e inspiração
do Espírito Santo para ser ter uma compreensão coerente da Bíblia. E acrescenta
a necessidade que o interprete tem de viver em harmonia com as verdades
contidas nas Sagradas Escrituras.
À exposição dos princípios gerais de
interpretação do Texto Sagrado é seguido pelas seis diretrizes específicas para
a interpretação da Bíblia, de acordo com a estrutura do artigo. A primeira diretriz
direciona o estudante a ter acesso ao que realmente constituem as Escrituras
Sagradas e isso é possível, pois o texto bíblico foi preservado ao longo da
história. Para se chegar ao texto como ele realmente é, o estudante deve
realizar um estudo textual, mais conhecido no meio acadêmico de crítica
textual. Isso porque, apesar de a Bíblia ser preservada ao longo do tempo,
existem variantes textuais que precisam ser analisadas. Nesse trabalho, há a
necessidade de se buscar uma tradução mais fiel ao pensamento do autor bíblico.
E ela não se constitui uma tarefa fácil porque não temos equivalentes nas
próprias línguas. Alem do mais, “os aspectos gramaticais e sintáticos das
línguas originais nem sempre podem ser representados adequadamente na tradução
moderna”[6].
Portanto, o pesquisador da Bíblia deverá optar pelo viéis mais seguro, nesse
caso é a tradução formal, que segundo
Davidson, é a única que apresenta uma versão mais exata e literal do original
em hebraico, aramaico e grego.
Estando de posse da tradução fidedigna
do Texto Sagrado, o estudante deverá, na sua empreitada de entender mais
completamente a mensagem do autor bíblico, determinar qual o significado da
mensagem no seu ambiente original. E isso só é possível quando se busca estudar
o contexto histórico da passagem. Antes, porém, o pesquisador deve ter em mente
os pressupostos históricos bíblicos que se consistem em aceitar que as pessoas,
os acontecimentos e as instituições revelados nas páginas sagradas são registros
históricos autênticos e confiáveis. Tendo isso em mente, o estudante partirá
para analisar as questões introdutórias dos livros tais como data, autoria, situação
vital dos livros, alem de verificar a cronologia, a geográfica, pesos, medidas
e sistema monetários, o calendário hebraico, o ciclo das festas, a fauna e a
flora, a urbanização, táticas militares, clima e agricultura. Isso não quer
dizer que em toda passagem ele precisará realizar todas essas pesquisas,
somente quando a situação exigir. As ferramentas úteis para essa empreitada
correspondem ao volume de material histórico na Escritura, os livros apócrifos
e pseudoepígrafos da Bíblia, os targuns, os materiais rabínicos posteriores,
autores individuais como Filo de Alexandria e Flávio Josefos, bem como as
descobertas arqueológicas por todas as partes do Oriente Próximo.
Ao se estudar os diversos aspectos
históricos que envolvem o texto bíblico, Davidson salienta que o estudante
poderá encontrar aparentes discrepâncias entre a Bíblia e as descobertas da
história secular. Ocorrendo isso, o autor adverte que o pesquisador genuíno
deve ter cautela porque em primeiro lugar várias informações históricas das
Escrituras que eram contestadas pelos eruditos foram posteriormente confirmadas
pelas descobertas arqueológicas. E em segundo lugar, a Bíblia não deve ficar
refém das descobertas científicas, pois muitos dos seus relatos não serão
confirmados, hoje, sobretudo os relatos miraculosos. Se, porém, for encontrada
discrepância entre os relatos bíblicos paralelos, o estudante deverá levar em
conta os seguintes aspectos delineados pelo autor: reconhecer os diferentes
propósitos dos diferentes escritores, aceitar que cada escritor pode estar
fazendo um relato parcial do incidente, identificar que a confiabilidade
histórica não exige que os diferentes relatos sejam idênticos, observar que as
convenções historiográficas aceitas nos primeiros séculos eram diferentes das
de hoje, averiguar ainda que alguns milagres e ditos similares de Jesus
registrados nos evangelhos sinóticos podem ter ocorrido em momentos diferentes,
notar também que existem na Escritura alguns pequenos erros de transcrição, e,
por fim, admitir que, por vezes, pode ser necessário não fazer pronunciamento
sobre algumas aparentes discrepâncias, até que mais informações estejam disponíveis.
Dado as diretrizes específicas para
interpretação das Escrituras, Davidson apresenta o próximo tópico que tem que
vê com a análise literária. Essa análise se faz necessária porque a Bíblia é também
“uma obra de arte literária”[7].
Esse empreendimento de análise se inicia com a determinação dos limites da
passagem em estudo. E não somente isso, mas quando também se consegue
identificar os tipos literários da passagem. O autor apresenta pelo menos dois
tipos literários que podem se encontrado nas Escrituras: a prosa e a poesia. A
primeira inclui discursos ou sermões, listas, ordenanças cúlticas, história,
relatórios ou anais, autobiografia, sonhos e visões, autobiografia profética e
a narrativa. O segundo tipo é composto principalmente por paralelismo. Esse pode, segundo o autor, ser sinonímico, antitético
e sintético. Esse tipo literário também possui métrica. Nela é encontrado o
emprego de inclusos, acróstico, símiles, metáforas, sinédoque, onomatopeia,
paronomásia, e personificação.
Além desse procedimento literário, o
pesquisador terá que averiguar as estruturas literárias contidas no texto para
análise. De acordo com o autor, “os escritores bíblicos com frequência
estruturam cuidadosamente versos, capítulos, livros e até mesmos blocos de
livros segundo um modelo artístico-literário”[8].
E os dispositivos de estruturação literária mais comum são o paralelismo em
bloco que é similar ao paralelismo sinonímico, e o paralelismo inverso ou quiasma.
Que é articulado semelhantemente ao paralelismo antitético.
Feito isso, Davidson passa a tratar da
análise verso por verso. Aqui o estudante deve fazer um exame gramatical e
sintático do verso, a fim de captar o significado pretendido. Esse estudo só é
possível quando se tem domínio completo da gramática e da sintaxe hebraica,
aramaica e grega. E não somente isso, mas o estudante deverá realizar uma
análise dos termos ou palavras vitais da passagem de estudo. Primeiro ele
examina a etimologia da palavra, logo em seguida se pesquisa a raiz da palavra,
depois se averigua o número e distribuição de ocorrências através da Escritura,
sua amplitude semântica, acepções básicas, derivados e emprego extrabíblico. Em
resumo, a palavra ou termo devem ser estudados em seu ambiente cultural,
linguístico, temático e canônico.
Ainda se tratando das diretrizes
específicas de interpretação bíblica, Davidson disserta sobre a análise
teológica. Esse procedimento corresponde a apreender o tema teológico principal
do livro, alem de captar os princípios e verdades teológicos que emergem da
passagem, sem deixar de fazer um estudo temático na bíblia e verificar qual é a
contribuição teológica que a passagem em questão faz ao grande tema central da
Bíblia. O estudante pode lançar mão da estrutura literária para fazer esse tipo
de análise, pois ela é uma ferramenta importante para identificar “a mensagem
teológico ou para o estabelecimento do tema teológico central de um livro”[9].
Porém, quando o pesquisador se deparar com textos problemáticos, Davidson aconselha
alguns cuidados que devem ser observados. O investigador deverá se fazer uma
bateria de sete perguntas tais como: qual a visão global do caráter de Deus na
Escritura? Existe na Escritura ou em material extrabíblico alguma informação
adicional específico relevante para a passagem problemática? Deus age como um
‘cirurgião divino’, cortando a parte infectada para salvar todo o corpo? Compreender
o pensamento hebraico resolve a dificuldade de interpretação? Qual é o ideal
divino na situação descrita? A atividade divina é um artifício para chamar a
atenção, para despertar Seu povo para que Lhe dê ouvidos? Existem pontos ainda
não completamente explicáveis ou compreensíveis?
Alem da análise teológica, o pesquisador
deverá atentar para seções das Escrituras que apontam intrinsecamente para um
cumprimento alem dela mesma, tais como profecia, tipologia, simbolismo e parábola.
Nas passagens que contem profecia, Davidson lembra que são dois os tipos de
profecias a clássica e a apocalíptica. Para se realisar uma interpretação
coerente da mensagem, é necessário verificar qual delas se encontra na passagem
em questão. Já nos textos tipológicos, o autor adverte que se deve levar em
conta as cinco características da tipologia. A primeira assevera que o estudo
tipológico tem suas raízes na historia. A segunda e a terceira afirmam que um
tipo prefigura ou representa o que está por vir, mas não de forma verbal ou
explicita. A quarta lembra que a tipologia envolve uma correspondência
superior. A quinta afirma que um tipo é divinamente ordenado para funcionar
como uma prefiguração do antítipo. No simbolismo, Davidson escreve que o
símbolo é a representação atemporal da verdade. E a parábola significa colocar
ao lado para fins de comparação.
Finalizando o tópico das diretrizes
básicas de interpretação das Escrituras, o autor faz alusão à aplicação
contemporânea da verdade encontrada como resultado de um amplo estudo. Para
tanto, deve se ter em mente três pressupostos: a mensagem da escritura como
universalmente aplicável. Controle escriturístico para determinar permanência e
o pressuposto de personalizar as escrituras, ou seja, fazer aplicação pessoal
da mensagem bíblica.
Depois de apresentar os pressupostos,
princípios e diretrizes para interpretação consistente das Escrituras, Davidson
faz uma exposição da história da hermenêutica bíblica. Ela foi dividida pelo
autor em seis períodos históricos. Essa exibição começa com os próprios
escritores do Novo Testamento, que realizam uma interpretação do Antigo
Testamento. O que se destaca na hermenêutica dos escritores neotestamentários é
que eles veem as passagens veterotestamentárias no seu contexto mais amplo.
Além desses interpretes das Escrituras do primeiro século, se destaca também os
exegetas da primitiva hermenêutica bíblica judaica. Eles se classificam em
quatro grupos. O primeiro são os indivíduos que pertencem à escola da exegese
escribal antes do ano 70 d.c. Eles, segundo o autor, tinham como princípio a
harmonia das Escrituras; cada detalhe do Texto Sagrado é importante. Alem do
mais, defendiam que a Escritura devia ser interpretada em seu contexto; esses
interpretes não acreditavam que existisse qualquer sentido secundário nas
escrituras; e por fim, criam que só existisse uma única forma válida para o
texto hebraico da Escritura.
O segundo grupo pertenciam ao que
Davidson denominou de escola de interpretação rabínica posterior. Esses rabinos
que vieram após os anos 70 d.c. adotaram a interpretação ‘natural e literal’ da
Escritura como alguma mistura de abordagem ‘secreta e alegórica’. O terceiro
grupo são os interprete de Qumram. A hermenêutica deles girava em torno de uma
‘interpretação de mistério’, e que qualquer exegese que fizessem o resultado
teria que está relacionado com a comunidade de Qumram. O quarto grupo são os
interpretes que não pertencem à tradição escriba, como por exemplo, Filo de
Alexandria. Os pressupostos básicos da hermenêutica dessa escola é que o
interprete é tão inspirado quanto o autor bíblico. Davidson argumenta que a
autoridade máxima para esse grupo não é a Escritura, mas a imaginação subjetiva
e inspirada do intérprete.
O terceiro período da história da
hermenêutica apresentada pelo autor do artigo corresponde ao tempo dos cristãos
pós-apóstolos. Três grupos se destacam nesse momento histórico. O primeiro são
os pais da igreja como, por exemplo, Marcião que, no seu arcabouço hermenêutico,
não havia espaço para o Antigo Testamento. E também Irineu, bispo de Lyon que
era mais ortodoxo na sua interpretação. O segundo grupo são aqueles que abraçaram
a hermenêutica de Alexandria, na qual, imperava o alegorismo de Filo de
Alexandria. E o terceiro grupo diz respeito aos que aceitaram os princípios de
interpretação da escola de Antioquia. Essa escola defendia princípios de
interpretação extremamente opostos aos defendidos pelo grupo de Alexandria.
Dando prosseguimento ao desenvolvimento
histórico da hermenêutica, Davidson introduz o método gramático-histórico da
Reforma Protestante no seu verbete. Que se resume aos princípios da sola Scriptura e a Escritura como sua própria interprete.
Seguindo a Reforma, o autor passa a
tratar de forma ampla sobre o método crítico-histórico. Esse tópico se divide
em quatro subtópicos. No primeiro, Davidson faz um breve desenvolvimento
histórico. Os eruditos que criam nessa maneira de interpretar a Bíblia foram
Richard Simon, o fundador da crítica bíblica. Johann Semler que afirmava que a
Escritura não foi inteiramente inspirada. E os teólogos liberais alemães que
deram forma à chamada Alta Crítica. Já no segundo tópico, o autor apresenta os
pressupostos da Crítica Histórica. Eles são basicamente os seguintes: a crítica
propriamente dita, a analogia na qual o critério para avaliar os acontecimentos
narrados na Bíblia é o momento presente, e o princípio da correlação onde “é
afirmado que a história é um sistema fechado de causa e efeito”[10].
Após escrever sobre os pressupostos, o
autor passa a arrolar os procedimentos da Alta Crítica. Eles se constituem em
critica da fonte que “tentam reconstruir e analisar as fontes literárias que
hipoteticamente serviram de base para o texto bíblico”[11].
Também faz parte dos procedimentos da Alta Crítica a crítica da redação que
objetiviza “descobrir as situações vitais dos redatores/escritores bíblico que
lhe fizeram modelar, modificar ou até mesmo criar matéria para o produto final
que escreveram”[12]. E
a crítica do cânon, procedimento recentemente descoberto, segundo Davidson.
Nessa metodologia crítica se busca as situações vitais, forças sociológicas e
teológicas, da sinagoga e da igreja que determinaram quais documentos seriam
selecionados como canônicos.
Alem desses procedimentos da Alta
Crítica, o autor apresenta outras abordagens igualmente críticas do Texto
Sagrado. Essas veem o texto bíblico apenas como uma obra de arte literária como
qualquer outra. Sendo assim, uma análise coerente nessa ótica, incluem como
Davidson cita procedimentos de superposição tais como crítica retórica, nova
crítica literária, leitura rigorosa, crítica da narrativa e a abordagem
estruturalista. Sempre tendo como pano de fundo a ideia de que a Bíblia é uma
obra de ficção ou mito.
Depois de apresentar os procedimentos da
metodologia da crítica-histórica, o autor dedica um tópico inteiro para fazer
uma ampla colação entre o método gramático-histórico e o da Alta Crítica. Essa
analogia consiste em comparar a definição dos métodos, em confrontar os seus
objetivos, alem de analisar paralelamente os pressupostos básicos desses
métodos, e por fim contrapor os procedimentos hermenêuticos básicos dessas
abordagens.
Para finalizar o tópico do
desenvolvimento histórico, Davidson disserta sobre a hermenêutica baseada na
Bíblia no Movimento do Advento. A metodologia hermenêutica desse movimento
corresponde em aceitar que toda a Escritura é necessária para interpretá-la de
forma consistente. E não somente isso, mas equivale em entender que a Bíblia é
sua própria interprete. Esse método assevera que para compreender “a doutrina,
deve-se reunir todas as passagens da Escritura sobre o tema”[13].
Alem disso, nessa metodologia, se aceita que Deus revelou as coisas futuras por
meio de visões, figuras e parábolas, portanto, deve-se estudá-las em conjunto,
pois uma profecia complementa a outra. Acrescentando-se a essa afirmação, é
dito também que “um fato histórico só é cumprimento de profecia quando pode ser
correlacionado com ela em todos os detalhes”[14].
Para encerra a apresentação dessa hermenêutica, Davidson salienta que “a Igreja
Adventista do Sétimo Dia ratifica a hermenêutica dos escritores bíblicos, de
Antioquia e da Reforma”. Em contrapartida, ela “rejeita o método alegórico de
Alexandria do catolicismo medieval, bem como o Método Critíco-Histórico do
Iluminismo racionalista e seus desdobramentos posteriores”[15].
O último tópico abordado pelo autor se
refere aos comentários de Ellen G. White, profetiza e escritora da Igreja
Adventista do Sétimo Dia em relação a uma consistente hermenêutica bíblica.
Nessa parte do artigo, Davidson faz uma articulação entre os escólios da
referida profetiza e os princípios, diretrizes e história da interpretação das
Escrituras. Em relação à interpretação da Bíblia, a escritora e profetiza
assevera em favor do princípio hermenêutico que mantém ‘a Bíblia, e a Bíblia
só, como norma de todas as doutrinas e base de todas as reformas’[16].
Ela também afirma que ‘a Palavra de Deus é suficiente para iluminar a mente
mais anuviada, sendo possível de ser compreendida por aqueles que têm o desejo
de compreendê-la’[17].
A autora profética do adventismo ressalta também o correto princípio de
inspiração da Bíblia, que segundo ela ‘a Sagrada Escritura, com suas divinas
verdades, expressas em linguagem de homens, apresenta a união do divino com o
humano’[18].
Ela ainda faz uma convocação para se praticar fé no princípio Tota Escriptura, quando convoca aos seus
ouvintes a ‘exercerem fé implícita na Bíblia como um todo, exatamente como ela
é’[19].
A escritora profética também adverte para que se aceite a autoridade divina das
escrituras. Isso ela faz ao ordenar que ‘deve haver uma fé estabelecida na
autoridade divina da santa Palavra de Deus’[20].
Ao tratar do papel do Espírito Santo na
interpretação bíblica, Ellen White, citada por Davidson, afirma que ‘um
verdadeiro conhecimento da Bíblia só se pode obter pelo auxílio daquele Espírito
pelo qual a Palavra foi dada’[21].
E com relação às diretrizes específicas
para interpretação da Bíblia, Davidson também apresenta comentários da
profetiza do adventismo. No quesito texto e tradução, Ellen White comenta que
apesar de Deus ter guardado de maneira especial a Bíblia, ao longo do tempo
houve erros nos copistas ou nos tradutores. Mas também acrescenta que ‘mesmo
todos os erros não causarão dificuldade a uma alma, nem farão tropeçar os pés
de alguém que não fabrique dificuldades da mais simples verdades reveladas’[22].
Para o tópico contexto histórico ela contribui dizendo que ‘compreender os
costumes dos que viveram nos tempos bíblicos, das localidades, dos tempos e
ocorrências é conhecimento prático; pois isso ajuda a tornar claras as imagens
da Bíblia, e a fazer sentir a força das lições de Cristo’[23].
Em se tratando de análise literária, a profetiza assegura que ‘... os livros da
Bíblia oferecem um singular contraste de estilos e uma variedade de formas dos
assuntos expostos’[24].
Quando se faz uma abordagem bíblica verso por verso a escritora profética assegura
que ‘... o método de estudar versículo por versículo é muitas vezes o mais
eficaz’[25].
Já na análise teológica ela faz alusão
ao grande tema central quando diz que ‘o estudante deve aprender a ver a
Palavra como um todo, e bem assim a relação de suas partes. Deve obter
conhecimento de seu grande tema central, do propósito original de Deus em relação
a este mundo, da origem do grande conflito, e da obra da redenção’[26].
Em se tratando das seções bíblicas que tem um significado alem delas mesma,
White apresenta três princípios: o primeiro é que o tipo veterotestamentário
‘devia ser cumprido pelos hebreus até que ... encontrasse o antítipo’. Em
relação ao segundo princípio que tem que ver com o simbolismo, a profetiza
comenta que ‘a menos que seja empregado um símbolo ou figura’ a Bíblia deve ser
entendida de acordo com o seu óbvio sentido. E a seção de parábolas a escritora
profética explica que Jesus gostava de ensinar por esse recurso literário porque
‘desse modo, [Ele] associava as coisas da natureza e a experiência pessoal de
Seus ouvintes com as sublimes verdades da Palavra escrita’[27].
Finalizando a aplicação dos escólios de
Ellen White em relação à hermenêutica bíblica, Davidson também aplica os comentários
dessa escritora à diretriz específica da aplicação contemporânea da mensagem
das Escrituras. Ela chega a comentar que ‘cumpre que façamos aplicação correta
delas [as Escrituras] aos nossos casos individuais’[28].
Para encerra o seu verbete, o autor
apresenta o último tópico da quinta seção que tem que ver com os comentários de
Ellen White e a história da interpretação bíblica. Aqui, a profetiza adventista
tece comentários sobre a hermenêutica relativista dos rabinos quando diz que
‘os rabinos falavam duvidosos e hesitantes, como se as Escrituras pudessem ser
interpretadas significando uma coisa ou exatamente ao contrário’[29].
Alem disso ela ainda denuncia o alegorismo desses líderes judaicos quando diz que
‘o sentido místico que [eles apresentavam ao povo] tornava indistinto aquilo
que Deus fizera claro’[30].
De acordo com os interpretes bíblicos medievais ela chega a dizer que
‘sacerdotes e prelados sem escrúpulos interpretava os ensinos da Escritura de
modo a favorecer suas pretensões’[31].
Já com relação à hermenêutica da Reforma, White a defende dizendo que ‘os
grandes princípios mantidos por aqueles reformadores ... foi a autoridade
infalível das Escrituras Sagradas como regra de fé e prática’[32].
Por fim, a profetiza do movimento
adventista critica severamente a Alta Crítica dizendo que ‘a obra da alta
crítica, em dissecar, conjecturar, reconstruir está destruindo a fé na Bíblia
como uma revelação divina’[33].
E em relação à hermenêutica milerita ela elogia ao afirmar que ‘os que se
ocupam de proclamar a terceira mensagem angélica pesquisam as Escrituras
seguindo o mesmo plano que o pai Miller adotava’[34]
4. Propósitos
O propósito de Richard M Davidson é apresentar os
princípios e procedimentos básicos para interpretar a Bíblia de maneira fiel e
precisa. Alem do mais, ele deseja expor de forma clara os mecanismos espúrios
da crítica bíblica.
5. Uso de Fontes
A presente obra é um artigo
teológico que se baseia principalmente na pesquisa de fontes secundárias,
contudo, utilizando-se restritamente, porém harmoniosamente, fontes primárias.
6. Pontos Fortes e
Fracos
Seria muita
pretensão de minha parte fazer esse tipo de análise, visto que sou apenas um
estudante iniciante nessa área. Mas gostaria de apenas mencionar cinco pontos
que julguei serem relevantes. O primeiro é que o articulista ao tratar sobre as
estruturas literárias não se utilizou de exemplos do livro de Daniel que se
apresenta como uma fonte riquíssima de estruturas literárias.
O
segundo ponto está relacionado à hermenêutica do advento. Na qual, ele menciona
que no adventismo recente tem se levantado “vozes que defendem uma mudança em
direção a um Método Crítico-Histórico modificado que aceite o sobrenatural, mas
sem perder o princípio da crítica”. O problema, aqui, ao meu ver, é que
Davidson não citou exemplos dessas “vozes” e nem exemplificou como isso ocorre.
Seria interessante se proceder dessa forma, pois ele citou nomes de indivíduos
e suas metodologias ao longo do desenvolvimento da história da hermenêutica,
porque não fazê-lo aqui. A dificuldade seria por limitação de espaço? Não
creio. Acredito que o autor não deseja se comprometer com indivíduos conhecidos
ou até mesmo colegas acadêmicos.
O
terceiro diz respeito ao um comentário conclusivo de Davidson em relação à hermenêutica
adventista. Ele diz que “a Igreja Adventista do Sétimo Dia ratifica a
hermenêutica dos escritores bíblicos, de Antioquia e da Reforma”. Acredito que
essa citação é um pouco comprometedora, pois os adventistas oficialmente
ratificam muitos princípios hermenêuticos, mas não todos, de Antioquia e da
Reforma. Talvez se fosse tecido dessa maneira, não nos comprometeríamos com
alguns procedimentos dessas escolas que não aceitamos.
O
quarto ponto relevante que gostaria de frisar tem que ver com o quadro comparativo
conciso arquitetado pelo autor para contrastar os métodos crítico-histórico e
gramático-histórico. Essa maneira de expor as estruturas dessas metodologias facilita
muito ao leitor ter uma visão panorâmica dessas hermenêuticas.
O
quinto ponto digno de encômio diz respeito à maneira como Davidson expõe os
comentários de Ellen White sobre a adequada interpretação das Escrituras. Alem
de o autor recapitular uma boa parte dos princípios, diretrizes e o
desenvolvimento histórico da hermenêutica, ele o faz alocando os comentos da
profetiza relacionado a cada tópico.
7. Público Alvo
Acredito que a
obra uma ferramenta preliminar para todo estudante, professor de teologia e
pesquisador da verdade bíblica.
[1] DAVIDSON,
Richard M. Interpretação bíblica. In:
DADEREN, Raul. Tratado de teologia: adventista do sétimo dia. 1. ed.
Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2011. p. 67.
[2] Idem, p.
69.
[3]
Ibdem.
[4]
DAVIDSON,
Richard M. Interpretação bíblica. In: DADEREN, Raul. Tratado de teologia: adventista do
sétimo dia. 1. ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2011. p. 70.
[5]
Idem, 71.
[6]
Ibdem, 80.
[7]
DAVIDSON,
Richard M. Interpretação bíblica. In: DADEREN, Raul. Tratado de teologia: adventista do
sétimo dia. 1. ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2011. p. 85.
[8] DAVIDSON,
Richard M. Interpretação bíblica. In: DADEREN, Raul. Tratado de teologia: adventista do
sétimo dia. 1. ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2011. p. 88.
[9] Idem, p.
92.
[10]
DAVIDSON,
Richard M. Interpretação bíblica. In: DADEREN, Raul. Tratado de teologia: adventista do
sétimo dia. 1. ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2011. p. 104.
[11]
Idem, 104.
[12]
Ibdem, 106.
[13]
DAVIDSON,
Richard M. Interpretação bíblica. In: DADEREN, Raul. Tratado de teologia: adventista do
sétimo dia. 1. ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2011. p. 111.
[14]
Idem, 111.
[15]
Ibdem, 111.
[16] Ibdem, 112.
[17] Ibdem.
[18]
Ibdem.
[19]
Ibdem.
[20]
Ibdem.
[21]
DAVIDSON,
Richard M. Interpretação bíblica. In: DADEREN, Raul. Tratado de teologia: adventista do
sétimo dia. 1. ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2011. p. 113.
[22]
Idem.
[23]
Ibdem, 114.
[24]
Ibdem.
[25]
Ibdem.
[26]
Ibdem.
[27]
Ibdem, 115.
[28]
Ibdem.
[29]
DAVIDSON,
Richard M. Interpretação bíblica. In: DADEREN, Raul. Tratado de teologia: adventista do
sétimo dia. 1. ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2011. p. 116.
[30]
Idem.
[31]
Ibdem.
[32]
Ibdem, 117.
[33]
Ibdem.
[34]
Ibdem.
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